quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Mulheres-Leoas

“Pois as mulheres daqueles tempos eram mais corajosas que leões, compartilhando com os apóstolos seus labores por amor ao Evangelho. Dessa maneira, viajavam com eles e desempenharam todos os outros ministérios”

(João Crisóstomo, falando a respeito das mulheres do início do Cristianismo em suas homilias. Citado em Reily: 1989: p.32)

A leoa é um animal ágil, forte, de passos lentos e seguros. É ela quem caça e, geralmente, as leoas caçam em cooperativa. Antes de dar à luz aos seus filhotes, ela escolhe cuidadosamente o local, e durante as primeiras semanas ela mantém-se em estado de alerta e defende sua prole. Muitas vezes uma leoa alimenta um filhote que não é seu. Os leões e leoas que pertencem ao mesmo grupo gozam dos mesmos direitos. O predomínio dos machos apenas se manifesta no momento da divisão das presas, mas é a fêmea quem caça, cuida dos filhotes e traz a presa para sua moradia.

Apesar de tudo isso, os leões é que são os “reis da floresta”.

Como isso se reflete em nossa história. Nós, mulheres, ágeis, fortes, seguras em momentos que nos surpreendem, damos à luz aos nossos filhos, cuidamos, protegemos e os educamos, trazemos o alimento ao nosso lar, mas somos apenas as “companheiras”, as “auxiliadoras”.

E mais. Aprendemos que por causa de uma mulher o pecado entrou na existência humana, e por causa deste pecado, sangramos todo mês, sentimos dores, e nosso corpo é considerado mal, pecaminoso. Não temos o domínio sobre o nosso próprio corpo.

O que aconteceu com as “mulheres-leoas” da nossa história? Míriam, que assumiu posição de liderança, ao lado de seu irmão Moisés, na saída do Egito (Êxodo 15.20-21), e logo em seguida é castigada e esquecida (Números 12.1-16; 20.1). Raabe, que negou a ordem pro próprio rei para auxiliar os espiões hebreus, a reconhecerem a terra, e é apenas lembrada como a prostituta estrangeira (Josué 2.1-21). Débora, que assumiu a guerra no lugar de um homem fraco, a profetiza que venceu os cananeus em nome de Deus, e é tão pouco citada (Juízes 4.1-31). Ana, que se calou diante de toda humilhação que sofreu durante sua vida, e foi tachada de bêbada, por se derramar diante de seu Deus, e é lembrada apenas como a mãe do grande profeta Samuel (I Samuel 1.1-28). E tantas outras mulheres, que fazem parte da nossa história, mas que quase não são lembradas.

Até quando seremos esquecidas ou omitidas por causa de rótulos sexistas e substituídas por coadjuvantes masculinos da história, por causa de uma leitura patriarcal?

Nós, mulheres, somos leoas, corajosas, fortes, que enfrentamos todos os dias as batalhas da vida, que encaramos a cada instante, verdadeiras lutas pela sobrevivência de nossa história.

Nós, mulheres cristãs de hoje, somos como as mulheres cristãs daqueles tempos, que, como leoas, levamos o nome de Deus em nossa vida, ensinamos o caminho do amor aos nossos filhos, abrimos mão de títulos, para que Ele cresça e não nós. Cada dia, como leoas, por amor ao Evangelho, usamos nossa força para que este seja propagado a todas e todos. Compartilhamos nossos labores, desempenhamos nossos ministérios, nos entregamos integralmente, por amor, a Jesus e à sua boa-nova de salvação.

“Deus, agradecemos por ter-nos criado mulher. Agradecemos pelo nosso corpo que não é mal, mas belo e criado para tua glória. Te louvamos pela bravura que colocaste em nossa existência. E acima de tudo, obrigada por nos criar mulher, e assim, nos dar a capacidade de trazer a vida, de suportar os labores todos os dias, de sonhar e ver os sonhos se tornarem realidade, e de poder ter a sensibilidade e a liberdade de nos entregarmos completamente ao Teu amor e aos propósitos que tens pra nós. Continue nos fortalecendo, para que sejamos as “mulheres-leoas” em prol da Tua vontade. Amém”


Fonte:

REILY, Duncan Alexander. "Ministérios Femininos em Perspectiva Histórica" Campinas, CEBEP, 1989.

www.saudeanimal.com.br/leao_r.htm

www.girafamania.com.br/introducao/inimigos_leao.html