quinta-feira, 31 de julho de 2008

Reconstrução da História a partir da Mulher (Cristianismo Primitivo)

A presença e a atuação das mulheres na Bíblia e na história do nascimento do cristianismo são valiosas para o estudo das origens cristãs. Grandes mulheres marcaram nossa história – a história cristã – com seus exemplos de discipulado, devoção e liderança. Seguidoras, discípulas, mantenedoras, profetisas, diaconisas, encontramos vários exemplos da presença de mulheres na história cristã. Mulheres que, em muitos momentos, foram omitidas, descaracterizadas ou pouco citadas nas narrativas cristãs. Mulheres como a “mulher sem nome” que unge Jesus a quem Ele declara: “Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória” (Marcos 14.9), identificada com Maria de Betânia, irmã de Lázaro, em João 12.1-8 e com a mulher pecadora em Lucas 7.36-50. A mulher que compreendeu o messianismo de Jesus e o ungiu, sendo aprovada pelo Mestre. Uma mulher que o reconheceu como o Messias, e que, segundo Fiorenza (1992, p.10):

“(...) é provável que na história original a mulher tenha ungido a cabeça de Jesus. Uma vez que o profeta no Antigo Testamento ungiu a cabeça do rei judeu, a unção da cabeça de Jesus deve ter sido entendida imediatamente como o reconhecimento profético de Jesus, o Ungido, o Messias, o Cristo. Em consonância com a tradição, foi uma mulher que assim nomeou Jesus por sua ação simbólica profética.”

Essa mulher “sem nome” caracteriza o verdadeiro discípulo, que além de reconhecer Jesus como o Messias, o unge, mostrando que compreendeu a messianidade de Jesus que significa sofrimento e morte.

Mulheres como esta, fazem parte do processo de redescobrimento da história cristã primitiva como história de mulheres, que também proclamaram o evangelho. Mulheres que estavam no centro da vida e da teologia cristãs, que desenvolveram liderança no movimento cristão emergente. Mulheres que tinham o poder e a autoridade do evangelho.

Como diz Fiorenza (1992, p. 11): “a Bíblia não é mera coleção histórica de escritos, mas é também Escritura Sagrada, evangelho, para os cristãos de hoje”, portanto, por possuir tamanho significado para os cristãos, não pode ser re-significada como mera literatura, mas passar por uma releitura hermenêutica, através de análise crítica histórica e teológica e o desenvolvimento de uma hermenêutica histórico-bíblica feminista. Os escritos bíblicos são formulações históricas surgidas num contexto histórico, produtos de cultura e linguagem patriarcal e androcêntrica, entendendo que: patriarcado é um “sistema sociocultural em que poucos homens têm poder sobre outros homens, mulheres, crianças, escravos e povos colonizados” (Fiorenza: 1992, p.57) e androcentrismo é uma postura mental: do grego aner, andros = o homem; androcentrismo = centralização do homem. Estrutura preconceituosa que caracteriza as sociedades de organização patriarcal, pela qual – de maneira ingênua ou propositada – a condição humana é identificada com a condição de vida do homem adulto do sexo masculino. O homem é a medida de todo ser humano (PRAETORIUS: 1997, p.21).

“Será que a primitiva história cristã é a ‘nossa própria’ história ou herança? Será que as mulheres foram tanto quanto os homens as iniciadoras do movimento cristão?” (FIORENZA: 1992, p. 15).

Não se pode ignorar a história das mulheres, sua herança bíblica, abrindo para as estruturas ocidentais, que definem as mulheres como secundárias. Todos os textos cristãos primitivos estão em linguagem androcêntrica e são condicionados por seu meio ambiente e histórias patriarcais. Na visão androcêntrica as mulheres são histórica e culturalmente marginais. Nos textos androcêntricos a tendência é apagar as mulheres como participantes ativas da história. Portanto, esses textos não devem ser tomados como documentos fidedignos de história, cultura e religião humanas. Para que as mulheres possam estar em contato com suas próprias raízes e tradição, é preciso reescrever a tradição cristã e a teologia e, assim, se torne também a história “delas” e não apenas a história “deles”.

Neste contexto de reconstrução histórica do Cristianismo das origens, uma das personagens mais violentadas simbólica e historicamente foi Miriam de Mágdala, conhecida como Maria Madalena. Discípula de Cristo, apóstola dos apóstolos segundo os pais da Igreja, esta líder da Comunidade Cristã Primitiva teve sua identidade roubada e foi identificada e transformada na prostituta arrependida, apagando assim, sua atuação apostólica nos primórdios do cristianismo.

“Se a identidade feminista não se baseia na experiência de sexo biológico ou de diferenças essenciais de gênero, mas na experiência histórica comum de mulheres enquanto colaboram inconscientemente ou lutam em cultura e história patriarcais, então a reconstrução das origens cristãs primitivas em perspectiva feminista não é só tarefa história, mas também feminista (FIORENZA: 1992 pp. 58, 59).

A proposta e o desafio são: libertar as mulheres de textos, estruturas, instituições e valores patriarcais e reconhecer seu valor e sua atuação na história do início do cristianismo.

Um comentário:

higor valin disse...

Ola mas que vicio, gosta mesmo de falar desse negocio!rsrssrs
falando sério, adorei ler o texto e poder enchergar as coisas por outra ótica, assim alem de ver a importancia pela luta, pude ver e compreender outras coisas não pretendo mudar meu posicionamento, pra mim titulos são meros titulos, honrarias meras honrarias, e não levaram ninguem ao céu, e muito menos poderia pensar que Deus fará distinção de por pele, sexo e afins.....
mas vou lhe apoiar, e estarei sempre a disposição para isso[diferente de certas pessoas q vão em bora, ou deixam os outros pra irem pra porto seguro~~!
sHUASsuHSUahsUAshaushAUshuHUSHAsu]



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